quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Soundgarden - [2012] King Animal


       Depois de um hiato de dezesseis anos, o Soundgarden nos brinda agora com seu primeiro disco de inéditas desde Down On The Upside. Muita gente torce o nariz para essa recente onda de reuniões das bandas que fizeram parte do Grunge de Seattle, mas preciso confessar que o Alice in Chains e o Stone Temple Pilots me surpreenderam bastante com o material que apresentaram após seus respectivos retornos - e além de tudo pude constatar que as duas bandas se encontram em excelente forma nos palcos, após tê-las assistido em sequência do SWU de 2011. No ano de 2010, lançaram a inédita (porém antiga, remontando às gravações do magnífico Badmotorfinger, de 1991) Black Rain como parte da coletânea Telephantasm. Associada a um clipe sensacional, a regravação desta música até então abandonada pela banda mexeu bastante com os fãs do dito Grunge, incluindo este que vos escreve agora - e abriu o apetite de muita gente para um possível material novo do Soundgarden. Ainda em 2010 gravaram a inédita Live to Rise, que viria a integrar a trilha sonora do blockbuster de incontestável sucesso "The Avengers" - e no vácuo do sucesso do filme, a música claramente despertou novamente o interesse da mídia para a banda, e o lançamento de um disco só de inéditas se tornara apenas uma questão de tempo. O disco, que tem o lançamento agendado para o dia 13 vazou esta semana, e assim como o AiC e o STP, o Soundgarden não decepciona, nos presenteando com um excelente disco.

       King Animal abre com a muito-adequadamente-nomeada Been Away Too Long, com uma pegada extremamente rock and roll - remetendo de cara às influências setentistas da banda. Os riffs incontestáveis de Kim Thayil, o baixo bem marcado de Ben Shepherd e a bateria monstruosa e difícil de se qualificar com palavras de Matt Cameron, e é claro - os vocais de personalidade e impressionante alcance de Chris Cornell, ainda mais rouco que nos trabalhos da banda nos anos 90 ou em suas gravações com o Soundgarden. A pegada rockeira é mantida nas duas faixas seguintes, Non-State Actor e By Crooked Steps, sendo que nessa segunda somos brindados com os tempos quebrados que se tornaram marca registrada da banda no fim dos anos 80 e anos 90, além dos riffs e fills fantásticos presentes nas guitarras dividas por Thayil e Cornell. A Thousand Days Before abre com uma guitarra que nos remete aos timbres e riffs do meio da clássica "Fell On Black Days", do Superunknown, logo caindo num andamento que em muito lembra um baião (!!!), num trabalho impressionante de Matt Cameron - redundante dizer, acredito. Blood On The Valley Floor é mais um petardo, com um instrumental que deixa clara a influência que o Led Zeppelin sempre teve sobre a banda de Seattle.

       Uma das maiores surpresas do disco, no entanto, ficam por conta de sua segunda metade, um pouco menos explosiva que a primeira. Bones of Birds mostra esse lado até então pouco explorado pela banda, e surpreende por ser, em minha opinião, uma das melhores canções do disco. Um riff simples e de efeito quase hipnótico tocado de forma indefectível por Thayil, uma belíssima letra e um trabalho vocal magnífico (mesmo para os altíssimos padrões que o nome Chris Cornell já impõe), com overdubs e backing vocals meticulosamente encaixados, com destaque para o pesadíssimo baixo de Shepherd, até então meio tímido. Com toda certeza é mera coincidência, mas nessa música a banda me lembrou um pouco o Winterville, que já foi postado por aqui. O disco segue com Taree, que se divide entre momentos mais calmos que se intercalam com um refrão pesado e marcante, com menções honrosas para as guitarras malucas de Thayil. A pegada roqueira da primeira parte do disco retorna na excelente Attrition, mas logo em seguida é deixado de lado logo nos primeiros acordes de Black Saturday - que confirma a obsessão da banda com músicas com "black" em seus títulos! haja dias negros! -, logo caindo mais uma vez nas guitarras, numa interessante mistura de timbres acústicos, sons distorcidos, delays e psicodelia. Os violões seguem em Halfway There, com uma abordagem mais radiofônica, forte candidata a ser lançada como single. As três últimas faixas seguem nessa dinâmica de lento/rápido e acústico/pesado, sendo as faixas onde o baixo tem mais destaque. A faixa que fecha o disco, Rowing, nos remete em seus primeiros segundos às linhas de baixo do Tool, e em termos gerais, ao som do Puscifer, duas bandas do porra-louca-e-genial Maynard Keenan - mas não se deixem enganar, ainda soando como o Soundgarden. Cornell e seus parceiros de banda mostram que a fonte de criatividade das bandas do dito Grunge ainda não secou, e o disco figura fácil entre os melhores do ano - o que quer dizer muito, visto que 2012 tem sido um ano bem fértil. Fãs ou não da sonoridade dos anos 90, recomendo muito o download do disco, que fugindo de rótulos específicos demais, pode ser resumido como Rock and Roll, esta linguagem que em menos de um século de existência já é atemporal e universal. Sem mais, fiquem aí com o disco:


domingo, 14 de outubro de 2012

Incubus - Morning View [2001]




Lembro-me de ter escutado Incubus pela primeira vez em meados de 2006, quando Anna Molly tocava sem cessar nas rádios e na MTV. Naquela época eu ainda não entendia o quão diferente a banda era de tudo o que ouvíamos no mainstream e alguns anos se passaram até que eu buscasse de fato ouvir a banda, que me chamou a atenção novamente em sua apresentação no SWU de 2010, tanto pela parte instrumental da banda, muitíssimo bem trabalhada por seus excelentes músicos, quanto pela presença de palco e pelo vocal impecável de seu frontman, Brendan Boyd.
Lançado em 2001, o disco Morning View deu continuidade aos novos rumos tomados pela banda, já apresentados em seu trabalho anterior, Make Yourself, de 1999 (que nos apresentou a canção Drive, uma das músicas mais marcantes e tocadas do início da década passada), fugindo da pegada new metal de seus dois primeiros discos. O disco abre com Nice To Know You, uma das músicas mais pesadas já gravadas pela banda, e ainda assim com texturas de violão e guitarra interessantíssimas e um excelente trabalho nos pick-ups, fugindo dos exageros cometidos pela maioria das bandas que possuem um DJ entre seus membros. A variedade de passagens e a forma como o peso e o belo uso de violões se encaixam são alguns dos elementos que colocam o Incubus anos-luz a frente de grande parte das bandas de rock contemporâneo. A faixa seguinte, Circles, nos dá uma demonstração de que a mudança na orientação sonora da banda (principalmente no que diz respeito às guitarras, antes uma combinação de PRS e amplificadores Mesa Boogie, conhecidos por seu timbre pesadíssimo e moderno, substituídos por guitarras e amplificadores “vintage”) não tiraria o peso característico da banda, que também é presente nas em suas “baladas”, como ocorre em Wish You Were Here, que apesar de homônima, não tem nada a ver com a canção do Pink Floyd, mais uma vez misturando belíssimas passagens limpas com outras mais sujas, mas que combinam perfeitamente com o contexto da música.
O disco segue esta mistura até seu final, com todos os músicos demonstrando um perfeito entrosamento. Talvez seja injusto, mas como sou guitarrista, preciso destacar o papel de Mike Eizinger na banda, com seu fraseado e riffs extremamente eficientes e que fogem do lugar comum de boa parte do “mundo dos guitarristas”, ao incorporar vários elementos experimentais em suas linhas de guitarra, lado a lado com seus riffs pesadíssimos, provando que não são necessários solos infinitos na velocidade da luz para se colocar um guitarrista em posição de destaque dentro de uma banda.
Morning View é um dos trabalhos mais importantes dos anos 2000, representando muito bem o que o Incubus produz, com todos os elementos que colocam a banda em destaque, fugindo da mesmice que atingiu o rock no fim dos anos 90 e no começo da década que se seguiu. Se você não conhece a banda, vá fundo, pois é uma das melhores bandas contemporâneas, com um estilo musical bastante ímpar.




terça-feira, 9 de outubro de 2012

Slow Season - S/T [2012]


E aí meus queridos, tudo certo? Depois de um hiato de uns 2 anos, pretendo voltar com o Fuel For A Mav... provavelmente é um fator psicológico, mas nunca me empolguei tanto para postar no outro blog que eu havia criado, e espero voltar a postar com frequência aqui - e para que isso aconteça, o feedback de vocês é essencial. O que me motivou a voltar a postar por aqui foi ter descoberto ontem essa bandaça que estou postando agora para vocês.

O Slow Season foi formado de Visalia, California e não consegui dados precisos sobre quando a banda foi formada, mas a página do facebook dos caras foi criada no final do ano passado, o que me faz pensar que a banda não tenha mais de um ano. Não importa, já ouvi o disco umas 5 vezes desde que o baixei (e visto que meu tempo anda muito corrido, considerem que é mais ou menos todo o tempo que tenho para ouvir música em um dia), e posso estar falando cedo, mas até agora é o meu disco favorito lançado em 2012. A sonoridade da banda, apesar de vintage, foge de uma tendência que assola a maioria das bandas que têm seu som calcado no fim dos anos 60 e começo dos anos 70: boa parte delas soa como um mero tributo e soam mecânicas, sem muita alma - meros tributos ao Led Zeppelin, Black Sabbath, Hendrix, Humble Pie, nomeie aqui o clássico. Apesar de termos aqui uma banda com o som claramente calcado nestas mesmas referências, fui extremamente surpreendido pela consistência e autenticidade do som do Slow Season: temos aqui um potencial clássico contemporâneo, ainda que soe como uma produção que saiu do começo dos anos 70.

A faixa de abertura é Heavy - que, fazendo jus ao nome, é uma das faixas mais pesadas do disco. Com uma pegada que lembra a Immigrant Song, do Zep, a música é um petardo extremamente marcante e grudento e já dá uma mostra do que está por vir: o Slow Season não é uma banda que tem uma guitarra cheia de solos ultra rápidos e virtuosos, e sim uma banda que baseia seu som em riffs. Riffs geniais que vão ecoar pela sua cabeça e que seriam denominados clássicos se já tivessem seus 30, 40 anos de idade. O tempo dirá. O disco segue com "Ernest Becker's 32nd Schizophrenic Nightmare", uma belíssima balada com uma linha de violão de  muito bom gosto, e que poderia caber facilmente no IV, do Zep. A influência do dirigível de chumbo ainda é muito clara nas gaitas, guitarra com slide e a pesadíssima bateria de Cody Tarbell, quase uma reposta à versão do Led a "When The Levee Breaks". Nas faixas seguintes a banda mostra mais um pouco de usas influências, misturando com propriedade The Doors, Pink Floyd, Hendrix, Alman Brothers Band e ainda assim uma personalidade única, talvez pelos vocais de Daniel Story Rice, que soam autênticos e confiantes, sem imitar os vocais mais agudos do Robert Plant ou de outros vocalistas de bandas congêneres. O disco continua seu passeio pelo anos 70, tanto indo pelo rock psicodélico, folk, blues, sem em momento algum cometer algum deslize que faça a banda soar artificial ou pouco a vontade. Dentro deste passeio por gêneros cabe ressaltar a faixa "Coco-A-Gogo", com seu sua pegada calcada no início do rock, ali nos anos 50 com seu riff hipnoticamente dançante, cozinha muitíssimo segura (não posso afirmar grandes coisas sobre o baixo visto que estou fazendo a audição no momento através do miserável som de meu notebook), vocal fantástico, e energia - muita energia. Fechando o disco temos a hipnótica Bars & Bars, com sua guitarra recheada de reverb, bateria frenética e uma vontade imensa do disco ter pelo menos mais umas 5 faixas.

Nunca acreditei nessas conversas da mídia sobre essa ou aquela banda que são a nova salvação do Rock. Não acho que o Slow Season seja a salvação, e menos ainda que o rock precise ser salvo. O que afirmo com certeza é que foi uma das maiores surpresas que tive na música em alguns anos - uma produção de altíssima qualidade e que ainda é pouquíssimo divulgada. Sem mais, se façam um favor e baixem esse discaço!