quarta-feira, 21 de outubro de 2009

O que aconteceu com o "clássico?"

Sempre me deparo com a galera “das antigas” – e até uma gurizada mais nova – chorando as pitangas, falando que o rock está morto, que não fazem mais discos como antigamente, que nenhuma banda lança clássicos hoje em dia. Será que esses sujeitos já pararam pra pensar em como “funcionava” um clássico, ali pela década de 60, 70, 80? Se sim, me desculpem, mas, não é o que parece. Durante as explosões iniciais do rock’n roll, hard rock (me refiro aqui ao hard macho, do fim da década de 60, e década de 70), heavy metal, punk rock e “n” outros gêneros, a indústria fonográfica ainda engatinhava, se comparada aos dias de hoje. Principalmente em tempos de guerra, não era fácil comprar instrumentos musicais, e menos ainda aprender a tocá-los. Guitarras de corpo sólido eram algo bem recente, tendo sido popularizadas no fim dos anos 50. Já era difícil montar uma banda, e era ainda mais difícil entrar em estúdio para gravar – equipamento tosco, mesas de 2 canais (uma das maiores evoluções pra época foi quando os Beatles gravaram I Wanna Hold Your Hand em uma mesa de QUATRO canais), microfones de baixa fidelidade, a dificuldade em arrumar um produtor e suporte financeiro. Enfim, poucas bandas conseguiam gravar e lançar um disco. E o disco custava caro, e também a vitrola.

O comum (eu mesmo nos anos 90 – e olha que tenho 20 anos de idade – fazia isso) era ir para a casa de um amigo mais rico, que tinha uma boa vitrola e alguns bolachões e ficar ouvindo som. Assim fica fácil entender o que era o clássico; era o disco que rodava mais nas rádios, o amigo rico conseguia achar na loja grande da capital e comprava, e indicava pra todos os outros amigos. Assim se disseminava a música. Hoje, em tempos de internet, fica fácil achar inúmeras bandas fantásticas que foram ignoradas, ficando à sombra de bandas maiores como o Led Zeppelin e o Black Sabbath (posso mencionar aqui bandas pouco famosas, mas importantíssimas, como o Cactus, Truth & Janey, Buffalo, Sir Lord Baltimore, Ice Cross, entre inúmeras outras). Mas na época, não era bem assim. Mas, mesmo contra todos obstáculos, de boca em boca, festa em festa, o Rock cresceu, ganhou espaço e vendeu. E vendeu MUITO. Com bandas, estúdios e produtores ganhando dinheiro, o Rock virou febre – centenas de bandas pipocavam na Inglaterra e EUA na luta por um lugar ao sol. A maioria não passava do primeiro disco – era um mercado cruel.

E a música foi se concretizando cada vez mais como uma poderosa indústria, e as figuras mais vendidas e tocadas nas paradas viravam ídolos de uma adolescência que era bombardeada com a música e o cinema da época, pregando a “rebeldia sem causa”. Rock não vendia só música. Vendia estilo de vida, vendia roupa, moto, carro. Novos métodos de produção, prensagem e divulgação popularizaram os preços dos discos, e a fita k7 tornava possível um “tráfico de música”. O Napster chegaria 2 décadas depois. Nos anos 80, a explosão da música dance e o Hard Rock farofa colocaram o Rock’n Roll de verdade para escanteio. O metal e até mesmo as bandas influenciadas pelo dance ainda produziam bons discos, que tinham ótimas vendagens, mas ficando cada vez mais de lado. No finzinho dos anos 80 veio o CD, que se popularizou no mundo no início dos anos 90 (acho que podemos excluir o Brasil aqui, já que até hoje CD não tem lá um preço muito convidativo por aqui). O mundo se cansou do visual espalhafatoso e a falta de criatividade das bandas do chamado Hair Metal, e a juventude precisava de novos ícones.

Mais compacto e barato que o LP, e prometendo uma maior fidelidade (que questiono, mas nunca fui muito conservador para achar motivo para resmungar sobre isso), o CD foi ganhando espaço. Michael Jackson vendia como água. A adolescência via o Guns trazendo de volta o espírito do Hard setentista, e emergia o Nirvana. A explosão do Grunge vendeu CD’s, camisetas, allstar e revolta. Pouco tempo depois, a explosão morria, junto com seu ícone mor, Kurt Cobain. Tenho pra mim que ao lado do chato Axl Rose, Kurt foi o último grande ícone de uma geração. Com o fim do último grande “movimento” dotado de certa rebeldia, o rock se pasteurizou, e foi sumindo da mídia. O Rap e o Hip Hop cresciam, e também o Pop. Logo a MTV foi inundada por MC Hammer, e depois Apache Indian, e a moda sempre mudava, semana após semana. Rap branco, boy bands, Spice Girls... Eu poderia fazer uma lista interminável. Mas como eu disse, o rock sumiu DA MÍDIA.

Vez ou outra alguma banda ainda pintava (e pinta) na MTV, VH1 entre outros canais, e até toca no rádio. Mas parece que as pessoas se acomodaram com a facilidade de há uma década se ligar o TV e ter Rock tocando. Como hoje isso não ocorre tanto, subentendem que o mesmo morreu. Já falaram que o Rock morreu com Buddy Holly, com Elvis, com John Lennon. Já tentaram matar o rock inúmeras vezes. Mas ele continua vivo, nas garagens, estúdios baratos, festivais alternativos, bares. Os festivais independentes vêm crescendo até mesmo no Brasil. Goiânia Noise, Jambolada, Marreco (um festival criado há um ano na minha cidade natal, Patos de Minas), e mais um monte de circuitos independentes que a preguiça não me deixa procurar, no momento. Diferente de décadas atrás, hoje é barato comprar guitarra, baixo, bateria. É barato alugar um estúdio pra ensaiar e gravar. É fácil arranjar produtor. É tão fácil fazer isso tudo, que existem bandas demais, e bandas demais que lançam muito material. E existe a internet.

O “problema” do clássico pode ser a internet. É material demais, e em um clique, tudo está no seu computador, e dele passa pro IPod. Ouvir música virou um ritual individual e banal – raras vezes se convida alguém pra ver o DVD de tal banda e tomar uma cerveja no fim de semana -. O computador tem mais discos que a maior loja da sua cidade, e você não lembra a última vez que PAROU pra apreciar aquele disco daquela bandinha nova. Esses tempos finalmente parei pra ouvir o tal do Weezer, e o disco Maladroit, por exemplo, tem TUDO pra ser considerado clássico. Tem até quem considere, mas a banda não tem uma legião fiel e fanática de fãs como o Led Zeppelin, por exemplo. É outra tendência “modernosa” – confundir clássico com “cult”. Quanto menos o disco vendeu, e menos pessoas gostam (adoram falar “quanto menos pessoas compreendem”) o tal disco, maior seu status de cult/clássico. Bullshit, é o que eu digo.

Não vejo problema nos novos discos não atingirem o status de clássico. Claro que alguns passam loooonge de merecer tal denominação. Mas outros, inúmeros, poderiam muito bem figurar ao lado do White Álbum, Led IV, Paranoid, Machine Head, Beggars Banquet – ad infinitum aqui. Nada me convence que um disco como o Rated R, do QOTSA, ou o Hooray! It’s A Deathtrip do The Quill não o possam. É uma pena que essas bandas não tenham o devido reconhecimento? Sim, é. Mas são a prova viva de que ainda se faz Rock de verdade, com qualidade, e não apenas pelo dinheiro. É bom ganhar dinheiro fazendo shows e vendendo discos? Claro que é, e não condeno isso. Até gostaria de poder viver assim. Até não cabe a mim julgar a quais bandas merecem os títulos de “novos clássicos”, mas tento fazer meu papel aqui, com o Fuel For a Mav. Baixem os discos na internet, mas comprem, e freqüentem os shows. Ficar em casa resmungando por nunca mais ter a chance de ver o Led Zeppelin quebrando o pau ao vivo ou lançando discos de inéditas não vai adiantar. Vida longa a nova safra do Rock’n Roll!

6 comentários:

  1. Isso aí cara, e eu acrescentaria que, além disso, o pessoal se espelha muito nas bandas antigas. Todos querem viver em turnês milionárias, se drogando, sendo idolatrados, respeito, groupies, etc. E daí culpam a internet, o P2P, e modernidades por terem acabado com isso.
    Cara, foda-se! Não é mais assim, ponto final! Todo mundo pode ter um MP3 Player de 2GB comprado por 30 conto do coreano. Com uma conexão razoável de internet neguinho pode ter a discografia completa de todas as bandas que escutará em dois anos em duas semanas.
    São fatos. Ao invés de tentar perpetuar o passado, que tal simplesmente fazer música boa? Essa nunca sai de moda.
    Eu por exemplo, nasci no século vinte, portanto nunca poderei presenciar uma luta sangrenta entre gladiadores no coliseu. E você acha que fico reclamando? hahahaha faça-me o favor!

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  2. Hahahahahaha, muito bem, muito bem. Esse é o espírito. O negócio é que a dinâmica de tudo nesse mundo muda, e vem mudando cada vez mais rápido. E nós que temos que correr atrás!

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  3. Mas ainda me sinto um pouco culpado por parar tão pouco pra DE FATO escutar o som das bandas. As vezes muita coisa foda passa batida.

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  4. Eu também cara. Fico tão feliz hoje em dia que posso ouvir todos os discos que já ouvi falar e que teria de pagar 80 paus no importado, que acabo priorizando a quantidade em detrimento da qualidade.
    Tenho de 300 pra 400 discos, se contar os vinis e os que já me livrei, hehe, e eu sabia perfeitamente como eram TODOS. Hoje em dia não consigo me "lembrar" direito de muitos discos, e que são bons até. Muito por eles estarem lá ho HD, com diversos outros, disputando "minha atenção", hehe.
    Relmente devia prestar mais atenção a certas bandas, Mas daí vem a "culpa" de não dar atenção oas outros 20 discos que baixei e ainda não ouvi.
    Cara, às vezes sinto muita falta de COMPRAR discos...o foda é a situa$$ão, hehe

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  5. Hahahahahaha, também passo por isso, sou um "baixador" compulsivo. Mas depois que tive a idéia do blog, qualquer disco que tenha uma ou duas músicas que me prendam a atenção de cara, eu ouço repetidamente com mais atenção pra ver se cabe ao blog, e depois tento escrever sobre o mesmo aqui. Aí fico intercalando essas novidades com discos aos quais eu já sou familiarizado, pra me facilitar hahaha. Eu também sinto falta de comprar as bolachinhas, depois de anos sem comprar nada, vou finalmente pegar o novo do Alice In Chains, que por mim, pelo menos, valeu MUITÍSSIMO a espera hehehe.

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